Querido diário
Minha semana no CPPEA foi um saco. Trent está doente. Ainda não consegui fazer amizades. A única pessoa que conversa comigo de vez em quando é Guilherme e, acho que ele só não conversa comigo sempre por quê a chata da Louise fica chamando. Cara, detesto essa menina! Com tanta menina aqui na escola que é bonita e tem caráter, Guilherme escolhe essa coisa enjoada. Affs! Ah, Guilherme me disse que nossas tias, Rachel e Marylle, deram à ele um diário também. Fico pensando o que ele escreve lá... Do jeito que é bobo e como nós somos gêmeos, deve ser praticamente a mesma coisa. -risos-
Você deve estar se perguntando o que eu estou fazendo. Bem, são exatamente 00:15, ou seja, no momento está todo mundo dormindo. Estou aqui sozinha escrevendo em você, tentando fazer o mínimo possível de barulho com a caneta. Hoje mais cedo aqui no CPPEA, tivemos uma excursão. Para onde? Clube. Foi, praticamente, o colégio todo. Imagina só a minha vergonha: aparecer de biquíni na frente desse povo. Trent? Não ligo aparecer assim na frente dele porém, até mesmo ele não foi ao clube. Traduzindo, fiquei praticamente sozinha já que Guilherme tem que ficar como um guarda-costas da Louise. Minha companhia foi a Karmin. Acho que estou começando a formar amizade com ela. Digamos que Karmin estava como eu: vergonha de mais para tirar a toalha e dar um mergulho.
Nós duas estávamos falando sobre como é cada uma. Ela se descreveu e eu também. Aí, veio aquela perguntinha que sempre me fazem: "Como um cara como o Trent se apaixonou por você?". Cara, detesto essa pergunta. Mas acho que Karmin não a fez por mal. Então, expliquei a ela que ele é diferente dos outros pois não escolhe meninas por seu corpo e sim por seu caráter. Ela disse que ficou impressionada e que eu tenho sorte pra caramba. Gostei de ouvir isso. Mas bem, ela também me contou que tem 14 anos e é adiantada na escola 1 ano, o que explica ela ter essa idade e estar na mesma série que eu. Fiquei pensando: para 14 anos ela é bem mais madura. Pensei mesmo que ela tivesse 16. Ela me contou que já namorou uma vez e que continua porém, estuda em outra escola. Me disse que ela não mora com seus pais e sim com sua irmã mais velha chamada Marie (que tem 19 anos).
Combinamos de entrar na piscina juntas. Assim, passávamos uma vergonha só e pronto. Ela soltou os cabelos e eu também. Contamos até três e pulamos. Foi muito legal. Não passamos vergonha nenhuma. Karmin ganhou até admiradores secretos. Sim, isso mesmo. Ela recebeu uma carta romântica de mais e no final estava escrito: "Por seu admirador secreto". Eu falei bastante na cabeça dela. Disse que ela tinha que comparar a letra com o caderno de alguém. Ela ficava falando que não dava pra olhar e tal. -risos-
Quando voltei do clube, fui direto para a cabine. Arrumei minha parte todinha e ainda dei ajuda para as outras meninas. Nossa cabine parecia um palácio: tudo no seu devido lugar. Aí, fui tomar um banho e me arrumar. Fiz uma trança de lado no meu cabelo, passei de maquiagem o básico (lápis, rímel e base) e vesti um vestido que ganhei uma vez como presente de Trent. Ele é de seda, uma mistura das cores roxo e azul. Simplesmente lindo! Fui para o pátio esperar que o sino da noite tocar para irmos jantar. Enquanto isso, resolvi ligar para Trent. Eu estava sozinha, precisava de alguém para conversar. Liguei e quem atendeu foi a irmãzinha dele, Kelloe (10 anos):
Eu: "Oi Kelloe. Tudo bem? É a Kanne."
Kelloe: "Oi Kanne! Tudo bem sim. Você quer falar com o Trent, né."
Eu: "Sim. Ele está muito ocupado?"
Kelloe: "No momento ele tá no chuveiro. Quando ele sair, falo pra ele que você ligou. Algum recado à deixar?"
Eu: "Ah, não. Nenhum recado. Como ele está?"
Kelloe: "A gripe que ele tinha melhorou. Acho que amanhã ele vai ir à escola novamente. Ei, quando você vai vir me visitar?"
Eu: "Ah, que ótima notícia! Bem, irei te visitar assim que o colégio der um tempo, okay?"
Kelloe: "Estou ansiosa para lhe ver! Bem, até mais então. Beijos!"
Eu: "Beijos, Kelloe. Ah, não esqueça de avisar seu irmão."
Kelloe: "Okay. Tchau!"
Desligou. Estou feliz por Trent estar melhor. O sino da noite tocou e eu fui jantar. Depois disso, encontrei Guilherme. Pela primeira vez, vi meu irmão chorando. Por quê? Louise. Não acho que aquela menina vale uma lágrima! Perguntei o que estava acontecendo.
Eu: "Guilherme, nunca te vi chorando. O que aconteceu?"
Guilherme: "Louise. Peguei ela dando em cima de um menino e, quando fui falar com ela, disse que eu prendo ela de mais. Que ela só estava conversando. E que, se é pra eu ficar nesse ciúme todo, nossa relação terminava ali."
Minha vontade era de sorrir e esganar a Louise por fazer meu irmão chorar. Eu estava feliz por finalmente aquela chatura sair do meu caminho. O problema é que não queria que ela terminasse o namoro e, sim, queria que Guilherme terminasse com ela. Mas, naquele momento, a única coisa que eu tinha que fazer era consolar meu irmão.
Eu: "Guilherme, está tudo bem. Ignore a Louise. Ela gosta de você também. Talvez ela só esteja nervosa com outra coisa que aconteceu e saiu culpando o primeiro que chegasse perto dela. Com toda certeza ela vai voltar a ser sua namorada!"
Na hora que eu disse essa última frase, rezei para tudo quanto é santo para que eu estivesse enganada. Somos gêmeos: eu sei detectar quem não é bom para meu irmão. E, Louise está longe de ser uma boa companhia. Só preciso que Guilherme enxergue isso.
Guilherme: "Você é um amor de irmã. Mesmo odiando a Louise você quer me consolar dizendo que ela vai voltar a ser minha namorada. Inacreditável! Mas bem, se Louise não quer ser minha namorada, tudo bem. Acho que no fundo eu sabia que nossa relação não daria certo. Obrigada por me consolar."
Eu: "Sim, eu odeio a Louise. Sempre te disse que ela não era boa companhia pra você. Mas se você acredita que ela é, quem sou eu pra julgar? Tenho certeza que você ama ela. Afinal, não é por qualquer um que a gente desperdiça lágrimas."
Guilherme: "Acho que já está tarde, Kanne. Vamos para nossas respectivas cabines. Acho melhor você ir dormir e eu também. Bora?"
Eu: "Oh, sim. Nem vi as horas passando. Mas bem, qualquer coisa, pode mandar uma mensagem no meu celular. Se não estiver com sono, a gente fica conversando. Vamos."
Peguei a mão de Guilherme e fomos até a entrada do corredor. Como a cabine de Guilherme é no segundo andar, passei lá e deixei ele. Dei boa noite e subi para o terceiro andar, onde fica minha cabine. Agora, aqui estou eu. Escrever isso tudo me deu sono. Vou ir dormir. Até logo mais ver, diário. Boa noite!
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